Intervenção política

terça-feira, fevereiro 15, 2005

DIAGNÓSTICO SOBRE A CAPITAL DO NORTE

· Para a Medicina a importância do diagnóstico correcto é fundamental, pois sem ele não se pode estabelecer um prognóstico nem um tratamento racional das doenças.

· Um dos métodos mais usados consiste em estabelecer um diagnóstico hipotético, sugerido por um sintoma mais marcante, e ver se os sintomas do doente estão de acordo com a descrição da doença.


A decadência do Porto no plano político, económico e social
O Porto está deprimido.
As esculturas de Soares dos Reis, os quadros de António Carneiro e a secretária onde um dia Gustavo Eiffel desenhou a Ponte Maria Pia obrigam-nos a recuar mais de um século. Passamos pela biblioteca, pela ala onde se reúne a confraria do vinho do Porto, deslizamos pelos mapas oitocentistas que preservam intacta a “patine de mão” .
Cruzamos o antigo floor da Bolsa de Valores do Porto, o belíssimo Salão Árabe, ecoam nos corredores neoclássicos os acordes daquele que será o último ensaio de Stanislaw Drzewiecky antes do seu concerto da noite.
O Porto era bem mais cosmopolita , mantinha relações intimas com os Países Europeus, sobretudo sobretudo por causa do vinho do Porto e do bacalhau.
Esta é a única cidade Portuguesa que faz lembrar as repúblicas renascentistas italianas – Florença, Génova, Veneza.
Por outras palavras, o Porto é uma cidade- nação e nem sempre lida bem com este carisma tão singular.
A última década e meia, é certo, não ajuda nada.
Uma sequência anormal de reveses fragilizou substancialmente a relação do Porto com o País, com Lisboa.
Até meados dos anos 80 esta era a capital do trabalho – apesar das nacionalizações, a máquina indústrial do Norte não foi atingida e só começa a diluir-se com as privatzações. “ Falta de visão”.
A história financeira do Norte está hoje diluída numa arca chamada “ Millennium”.
Claro, poder-se-á falar ainda na crise têxtil, com a emergência de competitivos concorrentes asiáticos, do caos das intervenções urbanas do Porto 2001.
Ou ainda da ausência de investimento Público , do proverbial individualismo da gente empreendedora do Norte.
Detenhamo-nos por momentos neste ponto – a perda de centros de decisão.
Se falar com os taxistas , vão dizer-lhe que a cidade perdeu nos últimos anos milhares de pessoas, perdeu sedes de empresas, investimento público, e que o Porto hoje não consegue sustentar só por si os táxis que tem. É sintomático.
Há de facto aqui um ambiente um pouco depressivo.
Os quadros dos grandes grupos do Norte enchem todos os dias os aviões da TAP e da Portugália rumo a Lisboa e as conversas giram em torno disso.
O Porto sente-se hoje mais periférico, não há dúvida.
Quando foi organizado um jogo amigável no Estádio do Bessa com estrelas de todo o mundo, numa mesa ao jantar , um habitante do Gana confidenciou que era tão ou mais difícil chegar ao Porto como ao Gana.
A ligação á Alemanha ,por exemplo, sobretudo á capital económica Frankfurt, e região adjacente com a qual o Porto tem laços económicos muito vincados .A TAP pura e simplesmente extinguiu a rota, em contrapartida a Lufhtansa assegura três voos diários Porto-Frankfurt.
A par de aumento do fosso entre o produto interno bruto (PIB), per capita da Região Norte e de Lisboa e Vale do Tejo, há uma medida absolutamente incontornável para o futuro da cidade : transferir sedes de empresas públicas para o Porto e criar aqui lugares de administração pública de topo. Que o Porto já bateu no fundo é um facto.
Acredito que o Porto já está a ultrapassar a fase de depressão, a derrota e Fernando Gomes, no final de 2001, é o fim de um projecto de cidade, aproveitado por Rui Rio, que tenta desconstruir tudo o que se tinha feito antes .2002 é o momento mais crítico do processo.
A partir de 2003 começo a sentir que a cidade pode crescer mais depressa á luz de quatro alavancas:
1.considerar a sua Universidade como uma prioridade,
2.constituição de uma liga de cidades históricas entre o Vouga e o Minho capazes de fazer lobbying em Lisboa e Bruxelas,
3.criação de massa crítica através da união entre o Porto e Vila Nova de Gaia,
4.criação de uma grande Região integrando em pleno o Vale do Sousa.


Falta ainda, a incontornável ligação á Galiza, o tão apregoado modelo “Porto ,capital do Noroeste peninsular
A promessa do Comboio de alta velocidade, que não sai do papel escorecido pelo tempo de exposição.
Falta a coragem de discutir os polémicos temas que não dão votos de imediato, mas cuidado que o Eleitorado está muito atento ás virtualidades………….

1 Comments:

Blogger armando s. sousa said...

Parece que sou o primeiro a comentar neste seu blog. Antes de tudo parabéns pelo seu blog. O post é uma interessante resenha da actualidade do Porto.

6:12 da tarde

 

Enviar um comentário

<< Home